terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Da desleveza pra leveza.

Tem dor que nos faz mudos e a boca só fala quando a cicatriz arremata...

Agora posso falar de dias em que a leveza foi se perdendo com o encantamento distorcido. E com o passar dos dias, se foi à espera, os caminhos; nos dias; nas badaladas do relógio; numa quimera noturna. 

Tive febre amarela, febre de todas as cores. Arderam-me os anseios.
Sei que queimam. A febre surge quando se faz necessário incinerar invasores patológicos. O que vai pra fogueira dessa vez, a bruxa ou o feitiço?
- Desleveza, aleveza ou inleveza.
(é só escolher no meni)
E se febre. Teria ainda um antitérmico para o espírito?
- Se o amor não for suficiente, o que será nessa vida?!
Acordei com uma sensação agridoce na alma. E lá foi à flor da primavera pra vir o fruto do verão.
O feitiço vai e a bruxa segue.
E dessa vez      
                      retirar-me e não es-qui-var.

Qual o fim do caminho que não escolho?
Fecho os olhos e rogo: - que tudo acabe num instante, com a velocidade da estrela madura que cai do céu.
E lá se foi à febre.



domingo, 5 de dezembro de 2010

Dois.

Vago por entre o labirinto das lembranças. Atento-me para cada curva percorrida em teu corpo, cada cheiro fundido com a química de nossa pele. Recordo-me das palavras não ditas, dos lugares que não visitamos, do escurinho do cinema, gestos, das despedidas com vontade de ficar, mãos que se encontravam tímidas e dos olhares presos pelo carinho.


Dos sentimentos dois: Esquiva e aceitação. De um lado uma obrigação de seguir, do outro me finco na vontade de ruminar as lembranças. Como uma menina que fica olhando a estrada, esperando algo passar...

Acorda menina, acorda!

- será capricho meu?

Em outros tempos, quando começava esquecer eu ligava pra não deslembrar da voz. Mas, a liberdade de ligar foi-me roubada. Assim como o corpo, boca e alma, que um dia foram violados pelo prazer.

Minha voz estremece em gritos mudos: - Como seguir? Pra onde recomeçar? Abandonar velhos sentimentos?

Não sei como, nem por qual caminho, mas sei que tenho que seguir. E reaprender a andar, assim como uma criança: engatilhar, dar passinhos, andar e correr. Quanto os sentimentos, abandoná-los seria o mesmo que arrancar um fígado, o baço. Só ver os dias seguirem não me basta.

Seria preciso também abdicar os sentimentos?

Nesse monologo que transcende essa folha, abraço as recordações à mercê de minha falha memoria humana.

Saudades do corpo na penumbra!

sábado, 9 de outubro de 2010

Calçada.

                      Pensei que era outro sonho ou mesmo mais um devaneio como tantos outros...

Olhei ao redor, pude notar que tinha voltado a sentar-me na calçada da praça das lembranças doces e saudosas. A praça da esquina das tantas despedidas estava ali acompanhada pelo vulto que também havia sentado. Ouvia minhas palavras rompendo o silêncio a suplicar por um sim, um não, querendo apenas um norte... Precisava inquietar meu coração.

Queria eu, algo com nome ou sem nome, mas que pudesse ser chamado de meu. Tentava falar do quanto minha cabeça almejava por um colo. Mas, lagrimas tropeçavam minhas palavras e no impulso desordenado de todos os sentimentos que ali circulava, levantamos da calçada e seguimos a andar. A voz do meu lado seguia falando em liberdade e desencontros, tornando em seguida um sussurro que ficava cada segundo mais baixo.

Seguimos sem destino, mas a partir daquele momento caminhos diferentes. O vulto foi levado pelo vento e eu segui a lua em seu encantamento. Quando dei por mim, caminhava só. Queria voltar e falar pra não se preocupar. Ansiava em dizer que ia ficar bem, que iria me recompor e que a dor era suave, porém, inevitável!

Balancei a cabeça tentando tomar tento e tratei de limpar os olhos. Com estranheza a dor fez derramar um líquido quente sobre minha face. Pude ver então, não era uma mutante e com isso a dor podia extravasar-se as lagrimas. E eu sentia, sentia muito com todo um coração que pulsa a questionar:

- Será o amor, o que nos torna humanos?

- Pode ser tão somente ele...

Esqueço-me das horas transviadas, sigo uma leve brisa, torno-me leve com ela. Na mesma leveza, penso que de alguma forma o dia foi bom. Tudo segue como o dia de amanhã que nasce na morte do dia de hoje.

Suave a memoria lembrando-te assim, com um afeto. Bendita seja eu por tudo quanto amei...

Bendito assim os dias que seguem, o amor transforma e como profere o poeta que canta:

- “A poesia prevalece!”.


Desnudo a alma e sigo...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Algodão-doce


No dia que cessa...


Grafam-me e segue o bico da pena, compondo minha doce-amarga inquietude existencial, nesses dias murmurantes.

Pauso no que penso. Vem-me uma saudade de qualquer coisa...

Busco uma leveza que se esbarra nos conflitos cotidianos, mas não apaga a luz de uma estrela dançarina que levo no peito.

Já não sei se durmo!

Sonhos voláteis, voláteis quanto um algodão-doce que sove na boca.

Perambulo entre as sensações nesse mundo singular. E a hora passa lenta...

L


E


N


T


A

...

Entre o vapor colorido, que se espalha em minha pele úmida.

As vontades invisíveis gritam, mas, só ficou um eco dentro de mim. Como uma melodia saudosa e tão medieval.

Leves brisas roçam a face de minha alma. Embrulho-me em tudo isso, juntamente com os desejos acumulados de todas as estrelas cadentes... As vejo mover-se em uma distância acessível. Cada pedido feito sela fora de mim, minha vida interior.

Tudo fica na cor do silêncio, como a sombra de uma nuvem que simplesmente passa oblíqua na madrugada.

Abro de repente os olhos que não havia fechado e encontro um papel em branco sobre a mesa...

Tudo não passou de mais um devaneio!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Boneca quebrada


A festa começa...

Casa cheia, bebidas, cigarros, músicas que embalam risadas e eu tentando me encontrar. Mas, sabe o desconforto de usar uma roupa que não é seu número? Simples, se corrige com a troca da peça. Porém, o que fazer quando a alma está incompatível com o tamanho de seu corpo?

Entre a fumaça as feridas resolveram latejar...



Saudade de quando a luz se apagava, quando podia ver teu corpo com minhas mãos.

Meu sangue circula de forma desordenada, tentando criar uma inestancável hemorragia. Minhas angustias saem pelos poros e o seu cheiro me causa náuseas.

Paro pra falar com alguns conhecidos e minhas mentiras sobem por minha garganta tentando virar verdade, mas, são detidas por minha hipocrisia.

Ah! AS escolhas dessa vida... Em que segundo isso é dado? Uma angustia invade minha alma, a dúvida do próximo passo me atormenta. A falta de uma voz que me diga de forma doce e firme: - não sei pra onde você deve ir mas não importa, estarei segurando sua mão!

(Com isso o “onde” já nem me importa mais).

Tenho fome de coisas concretas e palpável. O mundo pede paciência, mas eu quero uma guerra interior; quero mover moinhos. Já me basta ficar admirando o movimento das águas.

Penso que de alguma forma estamos mais presos aos antigos dogmas do que possamos supor. Vivemos adiando a felicidade como se essa não fosse de merecimento nosso. E essa de sofrer hoje, pra ser feliz amanhã, não me motiva mais. Mesmo sabendo que minhas vontades não mudam as direções dos ventos. Então, já posso escolher que vento seguir.

O fim da noite chegou, todos se foram...

Chorei como uma boneca quebrada e lembrava dos teus abraços enquanto limpava os cacos.

Te deixo ir...

Fico com minha histeria sem som.

Corro pra janela, como corre quem espera. Mas, corro pra ver tua partida. Teus passos seguem na mesma leve já que me fez um dia te olhar. Olho com a doçura da primeira vez.

Aquele velho aperto no peito. Cadê a serenidade adquirida? Sentimentos ainda desordenados. Sem saber o que fazer, sem lembrar ao menos como respirar.

Ah! O abatimento em nossos corpos era indisfarçável.

Antes a duvida do próximo encontro, agora a certeza do “nunca mais”. Fico com as lembranças armazenadas em minha falha memória humana.

Teu cheiro que se apaga em minha pele lentamente.

As miudezas que compunham o cenário que um dia foi nosso e a rotina que tenta apagar a nitidez de minhas lamurias.

Me pego aqui, com esse coração na mão, pra abrir com um abridor de latas pra ver o que tem dentro.

Já é tarde coração, tudo havia partido silenciosamente como chegara.

Vou tentar recompor imagens sem conseguir.

...